CAPÍTULO 1: SHOKO E KYOKO

23/11/2014 15:17

Saintia Shô: Shoko e Kyoko!

Por Lucas Saguista

 

  • Predição Traumática

 

        A primeira possessão divina em Saint Seiya aconteceu com Shun de Andrômeda no decorrer do 89º capítulo intitulado “Hades! A investida demoníaca sobre Shun!” (40º volume da 2ª edição brasileira pela Conrad Editora); apesar disso, é somente no capítulo 91 intitulado “O combate mortal na Quinta Prisão!” (41º volume da 2ª edição brasileira pela Conrad Editora) que descobrimos os precedentes desse fato. No flashback são mostrados Shun e Ikki na condição de crianças - sendo este primeiro um bebê - fugindo desesperadamente de Pandora, que também carregava uma “criança” nos braços. Como Shun era indefeso e, consecutivamente, alheio aos acontecimentos, quem realmente acabou sofrendo um trauma ali fora Ikki, que não pode fazer absolutamente nada para proteger o irmão caçula.

        Em The Lost Canvas, ainda nos capítulos iniciais, n’Os Dias Perdidos (1º volume da edição brasileira pela editora JBC) encontramos o mesmo evento ocorrendo com Alone, destinado hospedeiro de Hades, que também acaba sofrendo uma espécie de trauma tanto em sua predição como, posteriormente, em seu período de revelação, por assim dizer. Uma espécie não, um verdadeiro terror psicológico, afinal, tudo o que o garoto pintava morria inconsequentemente.

        Obviamente, existe um detalhe primordialmente importante acerca dessas duas obras, que identifica a comunicação existente entre si: a questão da infância envolvendo a predição da possessão divina, juntamente com o trauma sofrido por alguém próximo do hospedeiro.

        Em Saintia Shô, de Chimaki Kuori, não foi diferente: Ainda que em sonho (que não deixou de ser um evento real, porém, esquecido) encontramos a protagonista Shoko, na condição de criança, fugindo inutilmente de raízes que a capturam para, dessa forma, deixa-la a mercê de uma enigmática maça de ouro (representação simbólica ou poética de Éris, a deusa da discórdia). Como podemos ver, a autora abordou os itens dessa possível lista de possessão divina em Saint Seiya, a questão da infância, a questão do trauma seguindo imediatamente para predição de possessão. Apesar disso, nesse sonho houve uma interrupção realizada por Milo de Escorpião, fato curiosamente interessante, pois existe, bem ou mal, uma interrupção também nas outras obras, no caso, Ikki que luta incansavelmente para impedir que Shun fosse levado, e Tenma que resgatou Alone.

        Dentro desse tema é importante ressaltar dois detalhes fundamentais: Shoko possui uma irmã mais velha, Kyoko, que aparece impedindo a possessão de Éris quando esta tenta apoderar-se de Shô, na Escola Particular Meteoro. Analisando detalhadamente veremos que essa figura do irmão mais velho (como é o caso de Kyoko para com Shoko e Ikki para com Shun), ou de coração (como é o caso de Tenma para com Alone), torna-se um quarto ponto de referência entre as obras, pois mostra o intenso diálogo entre elas e dissipa uma equivocada individualização dos cânones, numa leitura descuidada.

        Considerando todas essas situações, obviamente, conseguimos enxergar os diversos pontos de referência e diálogo entre as obras, o que torna ainda mais rica a proposta da obra de Chimaki Kuori em Saintia Shô. Conforme observamos, essas questões levantadas acerca da infância, do trauma, da predição e, por último, da ligação fraternal se mostraram praticamente uma regra em termos de Saint Seiya no processo de possessão de uma determinada divindade.

 

  • Pendências com os Kidos

 

        Interessante que algumas abordagens em Saintia Shô não deixam margens para dúvidas de seu ponto de partida, ou origem. É o caso das pendências existentes entre os protagonistas das duas respectivas obras – respectivamente, Seiya e Shô – que os conduziram ao encontro de Saori, com o objetivo de cobra-las. Mais interessante ainda nessas casualidades são as motivações: ambos procuraram a herdeira de Mitsumasa Kido a fim de descobrirem informações de suas irmãs desaparecidas.