SOBRE SPIN-OFF E CÂNONE

18/05/2014 23:01

Sobre Spin-off e Cânone

Por Lucas Saguista e Danilo Duarte

 

        Elaboramos essa matéria tendo por único objetivo esclarecer de maneira definitiva a questão do Cânone, em específico, na obra de Saint Seiya, afinal, estamos saturados de discursos afetados por uma inverdade que se estabeleceu nos diálogos dos apreciadores da obra. Apesar das infinitas discussões envolvendo essa questão, percebemos um terrível equívoco no discurso da maioria, que acredita estar defendendo uma causa com algum embasamento, quando, na realidade, está distorcendo completamente um termo. Infelizmente, esse engano coletivo (senso comum) não se instalou na mente alheia por acaso, estamos tratando de anos de insistentes discursos tendenciosos de lugares “conceituados” ou “oficiais” com o único objetivo de conduzir um determinado público ao seu conveniente pensamento autoritário. Por fim, essa alienação acabou transformando e rotulando o Fandom de Saint Seiya nos piores da internet por sua selvageria e, principalmente, ignorância.

 

  • O que significa o Cânone ?

 

Cânone ou Cânon (Lat. Canon), segundo o dicionário Aurélio (8ª edição):

  1. Regra geral de onde se interferem regras especiais;
  2. Lit. A parte central da missa católica;
  3. Rel. Lista de santos canonizados pela Igreja Católica.

 

        Acima, encontramos uma parte no discurso que nos interessa: regra geral de onde se interferem regras especiais, ou seja, é considerado cânone uma obra que estabelece uma série de diretrizes. Essa série de diretrizes, normalmente, tende a respeitar os acordos estabelecidos na obra primeira (obras pioneiras, como costumo designar) numa continuação ou perpetuação, entretanto, não é descartada a possibilidade de uma transformação em termos de história e proposta em sua seqüência.

        Podemos considerar a obra de J.K. RowlingHarry Potter – que tem seu lançamento em Harry Potter e a Pedra Filosofal como a obra cânon, que estabeleceu uma série de diretrizes para as obras posteriores, entretanto, houve um afastamento da proposta inicial e uma ampliação no planejamento na seqüência. Essa abordagem mais rica que foi construindo o universo de Harry Potter não coloca as outras obras em divergência com a primeira, pois continuam respeitando sua base inicial como, também, não são obras de menor importância, afinal, todas são igualmente importantes (inclusive em relação à primeira).

        Uma obra pioneira, na realidade, tem a exclusiva função de servir de “norte”, ou seja, serve apenas de parâmetro para a construção e continuação de uma suposta série. Dificilmente uma continuação de uma obra em séries publicadas aconteceria sem consultar a proposta inicial, porque isso geraria uma continuidade desarmônica e conflitante em determinado ponto do processo. Ilustremos essa situação a obra de Masami Kurumada: Next Dimension; que está desconsiderando o alicerce deixado na obra mãe (ou pioneira, no caso, a Saint Seiya) e seguiu um rumo alternativo, mas conflitante.

        Apesar de uma obra posterior ser conflitante em relação à pioneira, isso não tira a autenticidade dela dentro do cânone, entretanto, isso pode gerar uma desapreciação por parte da crítica leitora e deixá-la em xeque dentro da cronologia. Não é descartada, em hipótese alguma, uma obra que não se encaixe dentro da cronologia considerada oficial, pelo contrário, hoje, existe uma terminologia chamada de Universo Expandido que exclui a possibilidade de uma desvalorização. Acompanhem a explicação de Danilo Duarte sobre Universo Expandido na continuação desse artigo.

 

  • O que significa o Universo Expandido ?

 

        Muitas grandes obras possuem um “Universo Expandido” (UE), como Star Wars, por exemplo. Dentro da concepção de um UE faz sentido termos obras escritas por outros que não o autor original: é a melhor forma de lançar vários conteúdos ao mesmo tempo sobre uma mesma marca, ou um produto seguido de outro. Saint Seiya se encaixa, ao mesmo tempo, em ambos os casos. Primeiro, entendam que tudo que é spin-off é oficial. Se o autor da obra deu liberdade criativa para que outra pessoa escreva uma história dentro de sua obra, logo ela é válida. Sim, isso é um spin-off. E, a menos que seja dito claramente o contrário, toda obra spin-off faz parte do universo em que se propõe inserir.

        Portanto, toda obra spin-off é cânone desde que seja dada permissão do autor original. Vejamos algum exemplo:

  • Neon Genesis Evangelion: The Iron Maiden 2nd é um spin-off que se passa, assumidamente desde sua concepção original, em um universo alternativo.
  • And Another Thing..., sexto volume da série O Guia do Mochileiro das Galáxias também é spin-off, porém não teve permissão do Douglas Adams, autor original, já falecido na época em que o livro foi escrito. Portanto, não é cânone.
  • O UE de Star Wars, livros e RPGs que expandem a temática do livro, continuando a história de O Retorno de Jedi. São todos spin-off, mas canônicos, pois George Lucas deu seu aval para a criação.
  • Os livros e quadrinhos de Supernatural, escritos pelo criador do seriado, são spin-offs, pois são histórias contadas fora do seriado (mesmo que tenham sido escritos pelo Eric Kripke).
  • The Lost Canvas, Saintia Shô, Episodio G, EG Assassin e Saint Seiya Ômega são spin-offs e são canônicos, pois tiveram permissão do próprio Masami Kurumada para sua criação.
  • Kurumada Suikoden Hero of Heroes é o único spin-off (ainda que canônico) cuja história se passa literalmente em outra dimensão, como dito desde o prólogo.

           

  • O que significa o Spin-Off ?

  

        Conforme vimos acima, Spin-Off é a continuação ou uma ramificação de uma obra e passa a ser oficial ao receber a autorização do criador. Portanto, qualquer obra que receba uma autorização do criador, mesmo sendo Spin-Off é, obrigatoriamente, uma obra Cânone.

        Para exemplificar melhor essa questão, houve um poeta argentino chamado A. G. Roemmers que escreveu O Retorno do Jovem Príncipe, que seria uma continuação da obra prima de Saint-Exupéry, respectivamente, O Pequeno Príncipe. Como a elaboração dessa obra não passou pela aprovação de Saint-Exupéry (29/06/1900 à 31/07/1944), esse livro é considerado Spin-Off e não cânone. Esse é um caso típico de uma obra inteiramente Spin-Off explorando completamente o uso do termo.

 

        A elaboração desse artigo não teve como meta reinventar os significados nem atribuir novos valores a termos pré-existentes, nossa única preocupação é com as insistentes e equívocas discussões infrutíferas, que seguem um embasamento inadequado. Estabelecemos esse diálogo visando atingir diretamente o Fandom brasileiro de Saint Seiya, que insiste em levar em frente falsos conceitos em detrimento de obras ramificadas, em especial, The Lost Canvas.